give me a break

19/06/2018

Não lembro quando comecei a evitar abraços longos, nem mesmo de quando foi a última vez que disse "eu te amo" para alguém próximo. Para desvencilhar-se da tortura do aniversário surpresa prefiro planejar minhas próprias festas, não deixando nenhuma chance de ser surpreendido. "Nossa, era você que passou por mim ontem? Desculpa, nem percebi. Não enxergo bem de longe, por isso nem cumprimentei." Uma das vantagens em se usar óculos é poder abster-se de levantar o braço e dar um tchau sorridente e alegre para as pessoas na rua, por mais que você as veja pode ignorá-las, afinal, ninguém vai saber mesmo que você está as evitando. "Por favor, me dê dinheiro, mas não me dê intimidade." "Escrever uma carta? Ok. Me dá um anote e cole aí." Nossa como é chato você estar com a galera, e eles ficam querendo tirar uma foto pra recordação, como isso é desgastante, não se pode mais ficar em paz. GIVE ME A BREAK (me dá um tempo).

Em apenas um parágrafo é possível notar quantos momentos especias foram deixados de lado por pura infantilidade (se é que essa é a definição correta para o que foi descrito). Sinto em lhe dizer, mas eles nunca mais voltarão. Salut, nice to meet you! Esse era eu há um ano atrás. Me lembro de quando enfrentei esses questionamentos (talvez eu tenha chorado um rio inteiro, ou não), sentia uma aflição invadindo meu coração quando me dava conta do quanto eu perdi, e em o quanto estava cego por agir de tal forma.

O arrependimento dói, não quero enganá-lo em dizer que é mil maravilhas. Ao mesmo tempo em que você se liberta de uma mentira da qual estava preso, você também experimenta de uma dose de "quanto tempo perdi", "no que estava pensando quando fiz isso?". Você percebe que vivia muito bem e não sabia, percebe o quão amado é, e que só não era feliz porque realmente optou em não ser.

Ao refletir sobre tais atitudes percebi que a raiz de todas elas era a ingratidão. Ela escondeu muitas verdades de mim, foi egoísta e não lembro dela ter pedido desculpas. "As más companhias corrompem os bons costumes", muitos dos meus comportamentos sofreram uma drástica mudança por conta dessa amizade, me tornei ríspido e mal agradecido, um pouco solitário ao mesmo tempo que estava rodeado de amigos, e carreguei uma placa de "give me a break" sendo que nem era isso o que eu queria.

Percebi que estava rodeado de sofismas, e comecei a desconstruí-los a partir de análises meticulosas em todas as situações que antes eram odiadas por mim, e dei inicio a uma construção (imagine uma placa grande pendurada no meu pescoço dizendo "estamos em obras", era assim que me sentia) de argumentos concretos e verídicos a meu respeito.

Nunca notei em como as pessoas gostam de me ouvir, e em menos de um minuto de conversa caem na gargalhada, minha companhia leva a alegria por onde eu passo. (me dei conta disso em uma viagem à São Paulo quando fui apelidado de "smile", claro que chorei quando ouvi isso). Eu sou a alegria em pessoa.

Sempre sou recebido com um abraço apertado seguido de um "estava com saudades" aonde chego. (eu não queria contar isso ali, mas o que sempre falam primeiro é "nossa como você está GRANDE! Tá tomando fermento?" Não importa quem seja, é sempre a mesma coisa, particularmente acho que eles devem combinar entre si pra fazer isso).

Ouvia muitas vezes em meu dia "eu te amo" em casa, mas a forma mais delicada que eu tinha para responder era com um simples e incorporado "ahan". Eu sou muito amado.

Sempre repetia o quanto eu não era "meloso" (hoje acho engraçado como eu enxergava tudo isso dessa forma), e não era de mim essas coisas, o que no final acabava gerando um desconforto aos que estavam próximos à mim pois eu não correspondia a nada, nem a fotos. Com um tempo comecei a me arrepender da forma que eu estava me comportando, e quando eu colocava minha cabeça no travesseiro vinha em minha mente: "Eu devia ter amado mais", "Eu devia ter sido mais grato", "Eu deveria mudar". Se eu não era "meloso", porque comecei a me incomodar com isso? Porque comecei a querer retribuir? Porque comecei a me arrepender de me comportar de tal forma?

Acredito que muitas pessoas são infelizes porque não são "melosas" (seja lá como você descreve isso) e não se permitem ser alvos da "melosidade". Todos nós nascemos para abraços longos, cartas enormes recheadas de "eu te amo", vários cumprimentos na rua principal da cidade, nascemos para muitos aniversários surpresa. Permitir-se ser amado pode parecer bobeira pra você, mas isso te torna feliz. O amor é expresso de diversas formas, desde o cuidado recebido até o "Machão do papai, vamos?" que costumo ouvir do meu pai quando chega nos lugares quando vai me buscar.(Disso dai eu tenho vergonha, só não reclamo porque sei que um dia vou sentir falta).

Foi a partir do momento em que me permiti ser amado que descobri mais sobre quem eu era, e descobri que amo ser "meloso". Esse ano estou me desafiando a viver cada um desses momentos. Enquanto corro na rua principal da minha cidade procuro olhar para todos os lados pra ver se encontro alguém e dar um sorriso de "como é bom encontrar você por aqui". Os abraços começaram a partir de mim, comecei a escrever cartas enormes, comecei a tirar mais fotos (tô amando registrar momentos). Não posso alterar os erros cometidos no meu passado, mas através deles posso fazer o meu presente melhor.

Por incrível que pareça ganhei uma festa surpresa esse ano, com direito a bolo e vela. Me permiti saborear o assoprar das velas da mesma forma que se saborea um creme de abacaxi, cantei os parabéns como se fosse o último da minha vida, e no final me ofereci para tirar foto com todos (me senti famoso por 10 minutos, achei meio cansativo), sorri para tantas fotos que meus lábios cansaram de ficar esticados, e meus olhos ja estavam vendo estrelinhas por causa dos flashs. Ah, nunca pensei que um dia diria isso. Como é bom ser amado!

Nascemos para sermos amados, não viver isso é ignorar a cruz.

"Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores."

-Romanos 05.08

- Lucas Karantino


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